O debate sobre a crise colocou a questão das oportunidades. Supondo que a crise fosse também o lugar de escolhas possíveis, novas escolhas puderam ser pensadas. O debate eleitoral prematuro, precipitado por interesse do governo, acabou trazendo essas proposições para uma plataforma de governo. Demandas foram geradas e acabaram mesclando crise, pós-crise e eleições.
De um ambiente onde não tínhamos nada a não ser uma fala governamental restrita a nos garantir que teremos sempre mais do mesmo, Lula=pós Lula, passamos para um novo ambiente onde, ainda que de forma meio cuidadosa, alguns personagens mais centrais vão soltando a fala. Serra falou, Aécio falou. Agora nos fala Malan.
Na edição de 9 de agosto do “O Estado de São Paulo”, sob o título “Respostas à crise: mais além de 2010” o ex-ministro, de olho na questão ética, tece algumas considerações sobre este olhar mais longe. Diz explicitamente esperar que o debate sobre o próximo governo “leve em conta seis temas inter-relacionados”. A saber:
1- Abertura pra o resto do mundo nas dimensões comercial, financeira, investimento direto, ciência, tecnologia, cultura e inovação. Enfim, a abertura que nunca se fez completa;
2- O custo-Brasil é o próximo item: Infraestrutura e logística em energia, transporte, telecomunicações, portos rodovias. Aqui ele toca na questão regulatória e na importância dos investimentos privados nesta área. Provavelmente falamos de PPP’s.
3- A questão da educação recebe o terceiro destaque e o ministro assinala que aqui estão as deficiências que comprometem o futuro;
4- Estabilidade macroeconômica e manutenção do tripé – câmbio flutuante, metas de inflação e responsabilidade fiscal. Assinala que o projeto de estabilidade não é um fim em si próprio, mas a condição para o crescimento sustentado de longo prazo;
5- Estímulo ao investimento privado, mas olhando para o ambiente institucional – “estabilidade e previsibilidade das regras do jogo”;
6- Esta não é exatamente uma meta, mas uma crítica à atual política externa brasileira, construída sobre o conceito de destino manifesto e não sobre a eficiência da economia e a efetividade das instituições.
Em realidade a questão ética pode ser vista ai como uma sétima meta. Citando um relatório do Banco Mundial que menciona o comportamento das autoridades como um poderoso “sinalizador” do que é ou não aceitável em uma dada sociedade, Malan comenta: “Vivemos tempos de excessiva complacência, relativismo moral...”.
Na lógica do texto as sete metas representam, em verdade, a solução do “desafio do desenvolvimento sustentado para além de 2010”.
Embora todas devam merecer atenção e sejam partes a se considerar de um projeto de desenvolvimento sustentável de longo prazo, a inexistência de citação concreta da conexão entre a sustenção do desenvolvimento econômico de longo prazo e políticas de sustentabilidade ambiental colocam uma diferença importante que pode ser percebida em Serra e Aécio que, em discursos recentes, fizeram clara menção ao assunto. Se falarmos em desafios do desenvolvimento não é uma nuance a ser desconhecida e sua presença ou omissão tem desdobramentos que devem ser considerados.
Demetrio Carneiro