
Do ponto de vista ambiental e relacionado com a crise a primeira coisa que me vem a mente é a declaração da Primeira-Ministra alemã, logo no início, dizendo algo como: crise não é lugar para frescuras ambientais. Se tivermos que investir em tecnologias não muito amigáveis com relação ao meio-ambiente, mas que sustentem a produção, é o que faremos.
De fato não deu outra.
Numa outra ponta do problema a FIESP já se movimenta em função de possíveis restrições que poderão ocorrer na próxima conferência sobre clima e meio ambiente, em dezembro, Copenhague. Segundo está na coluna de Sérgio Leo, no Valor Econômico de 17 de agosto: “Cresce, no setor privado, o temor de retaliações a pretexto do combate ao aquecimento global”. Claro, estamos falando da linha de defesa de indústrias altamente poluentes como as de cimento ou aço.
Todos os governos, sem exceção, jogaram recursos orçamentários em diversas destas indústrias sob a alegação de que geram empregos imediatos ou os garantem. O déficit dos países centrais deu um salto razoável. Não apenas nacionalmente, mas globalmente, parece que esta questão de paradigmas está muito longe de ser uma vontade coletiva. O que tivemos foi uma confirmação dos processos que criticamos.
Se o debate do pós-crise visto como a “oportunidade para mudanças” naqueles círculos decisórios ligados ao poder real, que é o que move as coisas, está, contudo, muito longe de mudanças reais, pelo menos na direção para a qual olhamos.
Quando fui à Câmara Federal, falar na sessão da Comissão Geral sobre a crise, o que deu para ver foi todos os nossos “peso pesados” com discursos supostamente inovadores, pregando as novas oportunidades, mas falando as mesmas coisas de sempre e confirmando os atuais paradigmas. A minha fala foi a única em outra direção: a crítica. Estou aguardando a transcrição da sessão. Pretendo ainda fazer um estudo sobre o que está dito lá. Acho que servirá como um bom exemplo do que pensa o poder real brasileiro.
O processo industrial voltado para a indústria manufatureira, sem preocupações de repercussões ambientais, tem décadas de "eficiência" gerando empregos e renda. As mudanças políticas necessárias para uma revisão das políticas públicas e mesmo as privadas, não ocorrerão no curto prazo. Indivíduos não costumam trocar o presente pelo futuro sem motivações muito fortes. É muito improvável que as mudanças necessárias ocorram de forma natural, por si próprias. Não há nada que aponte o processo civilizatório, como já pensamos, como um caminho em direção ao melhor, moldado pelo conjunto de condições objetivas. O que os fatos têm demonstrado, contra o pensamento tradicional progressista, é que as condições subjetivas têm enorme influência. No caso o querer permanecer empregado é um apelo muito forte.
O que estamos sempre chamando a atenção é para a inexistência deste debate, posto de lado por “outras” questões. Chamamos a atenção para sua prioridade estratégica e para os nexos de ligação entre coisas diversas como: Estado, desenvolvimento, políticas púbicas, ação pró-ativa dos partidos políticos, mobilização da sociedade civil etc... De outro lado, como percebo as coisas hoje, o “estar” no Estado será condição insuficiente para estas mudanças, que não dependem apenas da “vontade de Estado”, mas da vontade da sociedade. Neste projeto a iniciativa privada não pode ser vista como um obstáculo ou como um bando de carneirinhos a ser conduzido pelo aparelho do Estado ao melhor dos mundos.
No caso brasileiro especialmente se houve algum tipo de evolução em direção a uma maturidade ela terá que se manifestar e se apresentar em propostas muito mais sólidas do que as atuais.
Demetrio Carneiro