domingo, 27 de dezembro de 2009

SPREAD BANCÁRIO: DEBATE PELA MÍDIA



Dois dos nossos pesos pesados, FIESP e FEBRABAN, decidiram debater o spread bancário pela mídia. Nada mal...

Segunda o FIESP, utilizando a mesma metodologia do Banco Central do Brasil para a determinação do nível de spread bancário e aplicando-a a outros 39 países o Brasil está em primeiro lugar, com o custo mais caro para captação de financiamento. O estudo da FIESP afirma ainda que, mantida a média mundial para spread bancário, o nosso cairia mais de um terço.

A FEBRABAN por seu lado questiona é a informação e vê no estudo da FIESP um viés sensacionalista destinado a impactar a opinião pública favoravelmente à demanda por um custo de financiamento menor. Contudo o economista-chefe da FEBRABAN, Sardenberg, admite que o que ele chama de “spread bruto” é alto. Na lógica do economista seria um spread bancário “normal” alterado para mais por uma alta tributação e uma taxa elevada de inadimplência. “Ineficiências” da economia brasileira.   
Mais à frente o economista reconhece que os movimentos de spread comparado entre famílias e empresas é inverso. Ao passo que o spread para as famílias caiu o spread para as empresas subiu. Para este último fato desenvolve toda uma racionalidade tipo: As empresas tomadoras de empréstimos no mercado interno são as pequenas e médias que têm um custo maior etc.

Realmente o custo adicional de tributação, os índices de inadimplência reais, e não os divulgados pelo governo impactam, para mais, o spread. No final da matéria menciona o fato das empresas maiores estarem voltando ao mercado internacional de crédito. Só não explica que voltam por conta de haver fartura e custo baixo. Enfim, as pequenas e médias empresas nacionais que não têm acesso ao abundante crédito externo pagam spreads por qualquer conceito, FIESP,  FEBRABAN ou governo, alto.

Quanto ao terceiro ator desta história, o governo, outra matéria comenta uma reunião entre FHC e Malan sobre a questão do spread da época, 27,2% e compara com o spread de outubro de 2009, 26%. Dez anos e muitas bravatas depois.

A grande questão, que nenhum dos atores parece disposto a comentar, é que a competitividade não é boa apenas para as empresas, é boa também para os bancos e o nosso setor bancário não tem apenas a maior taxa de lucro do sistema bancário mundial, também tem uma das maiores taxas de concentração. Será que não tem mesmo uma relação entre formação autorizada e estimulada de oligopólios e spread bancário? Será que não tem mesmo uma relação entre spread bancário e taxa de lucro?

Estamos numa época de feriados longos. Um bom momento para refletir sobre estes assuntos.
Demetrio Carneiro

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