domingo, 6 de dezembro de 2009

A OPOSIÇÃO PERDEU O DISCURSO DA ÉTICA?



O recente escândalo envolvendo os democratas e a decisão da justiça de abrir processo contra dirigente do PSDB parecem estar sinalizando que a oposição perdeu o discurso da ética.
Não podemos mais falar da situação, pois agregamos as mesmas práticas.
Seria, então, a hora de assumir o discurso de Lula no qual todos os gatos são pardos. Algum tipo de concordância de que não se faz política sem se quebrar os ovos? Estes ovos?

Não acho.
Olhando para a gestão pública a luta pela ética não é apenas uma coisa abstrata, conceitual, moral. Tem uma razão muito objetiva no como a corrupção se reflete na carga tributária e por via dela chega ao bolso dos contribuintes.
E não se trata apenas do custo direto, resultado da aplicação no preço do bem ou serviço do que se paga aos corrompidos ou do que se gasta em estadias, viagens, presentes, festas e sexo para as atividades de lobby.
Existe um outro custo, nem sempre tão fácil de visualizar: A empresa que compra seu direito ao serviço ou à venda do produto realiza seu lucro não pela via da eficiência, mas sim pela negociação. Ou seja, não é necessário ou obrigatório, que o serviço, mais que o produto, seja eficiente. A compra pressupõe a falta de controle.
Enfim, a corrupção gera uma dupla perda. Perde-se pelo valor agregado, mas também perde-se pela ineficiência embutida no processo.

Muitos defendem que gastamos relativamente pouco, ainda, com o combate à desigualdade. Sabemos todos que nossa carga tributária é extremamente alta. Em quanto será que ela cairia se a luta contra a corrupção fôsse, ela própria, mais eficiente?

Assumindo que a famosa desculpa do “caixa dois” de campanha oculta é a formação de riqueza pessoal de indivíduos, simples apropriação privada de recursos públicos, na realidade a corrupção é mais um mecanismo de concentração de renda. Desta vez patrocinado pelo próprio Estado.
Tem outra perversão curiosa. Boa parte do caixa dois de campanha destina-se à contratação das miríades de cabos eleitorais em comunidades mais pobres. A contrapartida do ingresso de amplos segmentos na democracia política via voto foi resolvida pelo populismo pela contratação de batalhões de cabos eleitorais profissionais que atuam nos meses anteriores às eleições. Os corruptos e corrompidos conhecem bem a teoria das redes sociais. Os cabos eleitorais recebem algo perto de um salário. Como mais da metade da renda de pessoas mais pobres é apropriada pela tributação o recurso desviado volta em sua maior parte para o Estado...para ser novamente desviado.

A luta contra a corrupção não acabou. Uma Reforma Política em profundidade deveria ser nossa bandeira principal, mas talvez esteja na hora de olhar para outro lado, também. Sair do discurso meramente moral e moralista, aprofundar a ação militante de cidadania. Entidades como a Transparência Brasil, as chamadas Entidades Privadas de Controle Social, devem ser multiplicadas. Esta é a luta. Esta sempre foi a luta.

No fundo nem mesmo se trata de ser oposição ou situação, mas de ser cidadão numa questão que deveria transcender a estrutura dos partidos.

Demetrio Carneiro