O mesmo mobilizador das "massas", obedientes e aparelhadas do movimento social chapa-branca, em favor próprio é o grande operador dos esquemas de geração de recursos do PT. A experiência do isolamento de PC Farias deve ter sido traumática e, embora Dirceu aparente se movimentar sozinho, fica evidente a rede interna de solidariedade do PT e da base aliada. Não é mera coincidência a presença de Thomas Bastos ao lado de Cachoeira.
A matéria abaixo, da Veja, desnuda a rede - Dirceu é apenas uma das peças - de relações preparada para tirar do Estado tudo o que for possível em favor desse grupo. É uma coisa que acontece na lateral, num pequeno município litorâneo fluminense. Se a mídia não se mobiliza e expõe passaria desapercebido. A mídia não é alvo do lulopetismo por acaso.
Na realidade Dirceu sozinho merecia uma CPI. Ele é um operador, como foi PC Farias e como é Cachoeira. Esses operadores não trabalham sozinhos, operam em redes e representam grupos com forte atuação na estrutura de Poder. Evidentemente não falamos de um única rede, mas de diversas redes que atuam em paralelo, podendo ou não haver interfaces amigáveis entre elas. O que torna a rede única é o projeto comum de apropriação dos recursos públicos, em formatos que necessariamente não precisam ser monetários, e sua transformação em instrumentos privados de poder. Nesse sentido mais amplo são redes sem centro compostas por muitas redes centradas.
Seria muito importante para o entendimento da nossa estrutura nacional de poder uma leitura dessas redes dentro da proposta do Capitalismo de Laços de Lazzarini.
São os operadores que fazem a intermediação entre o público e o privado. As estimativas dos desvios de recursos públicos em favor da rede falam em bilhões, algo como R$ 40 bi ou R$ 50 bi anuais, mas essas são estimativas apenas para o desvio de recursos físicos. Há todo um espaço para questões não monetizadas, mas que são elas mesmas apropriações privadas de recursos públicos, como ofertas de emprego dentro da máquina pública (a conhecidíssima contratação de cabos eleitorais com recursos públicos) ou o uso de programas públicos de forma dirigida em favor de currais eleitorais ou financiamentos públicos subsidiados em favor de grupos selecionados, como vem ocorrendo sistematicamente no BNDES.
Falta a nós desenvolver em termos locais, no sentido de nacional, a noção do accountability.
Talvez estejamos excessivamente acostumados com uma história centenária de apropriação dos recursos públicos e resvalando para uma naturalidade nesses feitos.
Talvez não estejamos percebendo que os custos de alguma forma podem ser quantificáveis em reais, mas que fundamentalmente a questão é de custos na qualidade de nossa democracia no seu sentido mais amplo e nada abstrato de implementadora das diversas qualidades de vida de brasileiras e brasileiros.
Reportagem de VEJA revela que, mais do que o prefeito petista, são apadrinhados de José Dirceu quem dão as cartas em Maricá, município que enriqueceu por estar na rota das novas descobertas petrolíferas
Demetrio Carneiro