quinta-feira, 14 de junho de 2012

FABIO FELDMAN - RIO+20: VAI DAR TEMPO?


Já tem um bom tempo atrás, foi antes das eleições de 2010, li na mídia um artigo de um oficial da marinha, o Almirante Flores. Basicamente ele comentava que o custo eleitoral de transformações ambientais mais profundas era muito alto no sentido de eventualmente deslocar, de forma muito forte, as pessoas de seu espaço de conforto. Isso tanto pode se referir a nós enquanto consumidores que precisamos reorientar nossos hábitos de consumo – tipo reutilizar, ou pior reduzir voluntariamente quando consumo envolve a satisfação do status – como pode se referir a nós enquanto agentes políticos que vivem do voto e podendo estarmos inseguros quanto a reação de grupos poderosos como empresários – imaginem-se agora em campanha contra o uso individual de automóveis ou disputando com a indústria de construção civil a adequação e sustentabilidade de unidades habitacionais ou em confronto com a turma da extração ilegal da areia ou madeira ou abate clandestino ou mineradoras em seu município. 

Essa questão política de alguma forma dilata os tempos de tomada de decisão. Esse mesmo assunto é abordado por Jorgen Randers – um dos co-autores dos estudos do Clube de Roma que deram origem ao “Limites do Crescimento” – em seu recente livro “2052: a global forecast for the next forty years”. Randers comenta sobre um intervalo entre a observação do evento e o início de um processo de reação. Dá como exemplo a distância entre a constatação inicial do aquecimento global e a busca de pactos globais, por exemplo, pois passados mais de 40 anos além da produção dos gazes de efeito estufa ser muito maior do que a capacidade de absorção mais básica via fotossíntese ainda registramos um forte crescimento na produção desses gazes. Ele também se pergunta: Dá tempo?

Essa pergunta crucial não parece necessariamente fazer parte dos cálculos dos operadores políticos ou de seus eleitores. Esse pode de fato ser um problema. 

Saudações 
Demetrio Carneiro 

Rio+20: vai dar tempo? 

Fonte: Valor Econômico 

No dia 5 de junho, foi celebrado o Dia Mundial do Meio Ambiente. A data foi definida durante a primeira Conferência de Meio Ambiente, realizada pelas Nações Unidas, em Estocolmo, em 1972. Desde então, assistimos a cada ano o mesmo filme: os governos se esforçam em demonstrar compromisso pelo anúncio de medidas de impacto e programas bem sucedidos. 

Até recentemente era comum o plantio de árvores, o que deixou de acontecer, pois a mesmice sempre tem o seu preço. Ainda mais quando se verificou que a maior parte delas morreu pela falta de cuidados. É mais fácil plantar do que regar, adubar, podar... 

Às vésperas da Rio+20, o roteiro não é diferente: velhas iniciativas são requentadas e colocadas no cardápio como algo inovador e prova de amor com o meio ambiente. 

De certo modo, esse é o espírito dessa reunião das Nações Unidas que, até aqui, não disse a quê veio. 

Paradoxalmente, não há no calendário da ONU ou mesmo dos grandes eventos internacionais, oportunidade mais preciosa para selarmos o destino da humanidade. 

A ciência, a cada novo estudo, demonstra a urgência de tomarmos medidas que possam evitar o colapso da nossa sociedade. Os pessimistas acreditam que ultrapassamos irreversivelmente o sinal vermelho. 

Daqui para diante, salve-se quem puder. Na linguagem mais sofisticada, tratem de se adaptar. Afinal, a nossa espécie e as demais já enfrentaram situações semelhantes na história do planeta. 

Cínica ou não, essa tem sido a postura que, na prática, os governos têm adotado. O cálculo é de uma aritmética trivial: quantas eleições terão decorrido deste período. Ou na célebre frase de Keynes, "a longo prazo, todos estaremos mortos". 

Na semana passada, foi divulgado o GEO 5 - Global Environmental Outlook, pelo Pnuma - Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, com o diagnóstico do estado do planeta. 

Participei de um dos grupos de sua elaboração e testemunhei a angústia de um dos seus coordenadores em relação aos resultados: "A situação piora a cada relatório e a falta de ação é desesperadora. Tenho vontade de desistir de tudo isso". 

O aumento da consciência ambiental, por outro lado, é incontestável. O ministro Delfim Netto, em entrevista recente, fez dois comentários interessantes: na década de 70, para nós, poluição e progresso eram quase a mesma coisa. 

Até aí, nada de novo, até porque esta visão faz parte do Segundo Plano Nacional de Desenvolvimento de 1975. Mas o interessante veio em uma outra declaração: a minha neta tem sido a responsável pela compreensão que tenho hoje sobre meio ambiente. 

Quem nasceu na década de 1970 está pela fase dos 40. Quem nasceu em 1992, com 20. Será que não foi tempo suficiente para fazer o que se discutia naquele período? 

Seria a humanidade tão estúpida a ponto de desconsiderar, ainda que por precaução, os reiterados alertas da ciência? 

Alguns acreditam que estamos vivendo um grande período de negação, outros, especialmente, preferem desqualificar a ciência, como se vê nitidamente nos Estados Unidos. 

Respostas têm sido dadas. O fenômeno das ONGs é recente. O setor empresarial hoje é diferente de 20 anos atrás. A neta do ex-ministro está aí para comprovar que as crianças estão atentas, como estiveram em 1992. Mas será que vai dar tempo? 

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Fabio Feldmann é consultor em sustentabilidade