Interessante como a ilusão nacional-desenvolvimentista funciona. O governo brasileiro não trabalhou para chegarmos aonde chegamos. Se estamos aqui foi por condições históricas que se deram completamente fora da capacidade operativa do Estado. O que se fez foi apenas não atrapalhar e dar uma mãozinha em alguns aspectos.
Não foi o Estado brasileiro que gerou a crise nas economias do Centro. Não foi o Estado brasileiro que gerou os processos de transferência das cadeias produtivas menos lucrativas para a semi-periferia. Não foi o Estado brasileiro que forneceu o mercado interno, ou a Dívida Pública confiável, que o capital excedente precisa para continuar a se reproduzir com lucro. Também não foi o Estado brasileiro que inverteu os fluxos de renda ao apreciar as Commodities e depreciar os produtos industriais. A contrário do que choram nossos nacional-desenvolvimentistas os produtos industriais tiveram depreciação relativa em todo o planeta e não apenas aqui.
Onde o Estado brasileiro deu uma mãozinha foi em não ter atrapalhado. Ajudou a ampliar o mercado interno quando gerou políticas públicas redistributivistas e forçou a mão no crédito ao consumidor. Claro que não teria conseguido fazer essa ampliação de crédito se as altíssimas taxas de juros, que os agentes públicos dizem odiar, não houvessem facilitado a assunção do risco maior de emprestar a quem não tem renda declarada: O imenso contingente informal agregado ao consumo. Tem uma dialética romântica aqui que é importante repisar, pois o combate contra os altos juros tem um papel na construção da ilusão nacional-desenvolvimentista: Eles odeiam os juros altos, mas não haveria tal expansão de mercado se os juros fossem “regulares” com o padrão internacional, pois não haveria reservas para cobrir o risco.
Enfim, estamos no lugar certo e na hora certa. Nenhuma novidade. Se estivemos em outros contextos na mesma situação e nem por isso soubemos dar conta do recado. Basicamente nossas deficiências e fragilidades são as mesmas daquele passado. A novidade vai ser se soubermos dessa vez usar a janela de oportunidades.
Certo, agora vem Mantega e viaja numa leitura sobre as economias do Centro, como se dependesse apenas dos Estados-nação e de seus dirigentes escolher e fazer a coisa certa. Como se não houvesse um sistema internacional operando ou populações locais e se considerar, entre outras questões. É que dentro de sua ilusão ele, Mantega, realmente acredita, como dirigente, que ele e seu grupo são os responsáveis por estarmos onde estamos. Não estranha que dê uma de Lula e decida dar aulas sobre como fazer as coisas.
Perante a tudo isso o silêncio da oposição formal, aquela que está nos partidos políticos, tem ares de concordância e visão comum. Provavelmente focada na sua sobrevivência, acumulando erros sucessivos, a oposição formal se mostra incapaz de formular uma Teoria do Desenvolvimento possível diferente da atual e acaba comprando as mesmas ilusões. Aliás, as de sempre...
Demetrio Carneiro