Basicamente os gregos pagam hoje a conta de ontem. Como se diz no meio liberal: “Não tem almoço de graça”. Se achavam que o gasto público é um poço sem fundo agora estão descobrindo que não é e que tem um custo que pode ser muito alto. Os ganhos excessivos de qualidade de vida são retomados em forma de perda de qualidade de vida. Aqueles que acusam as políticas de estabilidade e responsabilidade de “políticas neoliberais” , políticas de suporte ao rentismo, devem perceber ou pelo menos devem tentar perceber qual a outra face da liberalidade fiscal.
O modelo brasileiro do pós–crise foi construído no fio da navalha.
Induzir fortes políticas de investimento sem poupança interna, Pré-Sal/Copa/Olimpíada, dependentes da poupança externa representava um duplo risco:
a) Retomada do crescimento no resto do mundo. A fartura de capitais é resultado da escassez de oportunidades nos países desenvolvidos. Frente a ela os países “emergentes”, por terem sentido menos os efeitos da crise, acabam sendo melhores oportunidades e atraindo mais investimentos. Uma retomada do crescimento deverá escassear esses capitais. Não foi o que aconteceu, mas...
b) Crise nos países desenvolvidos. Os capitais sobrantes não caíram do céu. Como dissemos vieram por diferença de oportunidades. A crise na Europa leva ao seu recolhimento. É a chamada aversão ao risco.
Na realidade toda a percepção de um crescimento brasileiro, projetado de 6% ou até mais, estava ancorada na possibilidade de uma retomada da economia mundial somada à expansão do consumo interno e financiada pelos capitais externos. Um belo patinho.
Sem a resto do mundo somos o que somos: Um mercado interno forte, mas fundado no endividamento e não na expansão da renda. Não somos e não temos mecanismos próprios de formação de poupança. Não somos capazes de construir políticas internas consistentes de investimento. Sem o resto do mundo os “emergentes” tão cantados em prosa e verso são um pato manco.
Vamos torcer por um outro governo, com outra filosofia de melhoria da qualidade de nossa relação com o resto do mundo, de expansão de mercado interno via emprego qualificado, de construção de lógicas de estímulo à poupança e ao investimento nas inovações, na economia verde.
Está na hora de riscar de nossa história da história do pato manco.
Nesta altura so campeonato não resolve muito a Alemanha ou a França ficarem bradando contra os "especuladores" que estão especulando sobre os erros de condução das políticas públicas na Grécia, Portugal, Espanha.
Demetrio Carneiro