quinta-feira, 20 de maio de 2010

APRECIAÇÃO DA MOEDA CHINESA: PODE NÃO SER NADA DE BOM PARA A AL

Um dos debates recorrentes na economia mundial e mesmo aqui no Brasil é sobre a necessidade de uma apreciação da moeda chinesa. Para nossas indústrias seria um maná, pois aumentaria a competitividade dos produtos brasileiros frente aos chineses, dentro de nosso mercado interno. Da mesma forma a disputa nas vendas externas ficariam mais equilibradas. Não seríamos apenas nós a estar gratos. Americanos, portugueses, canadenses...A lista ia ser longa.

Agora, hoje, 20, alguém jogou um jato de água fria nessa fervura.
Em texto postado no portal VoxEu pesquisadores ligados ao Interamerican Developement Bank, apoiados por um professo de Cambridge e USC(1), divulgam um texto onde argumentam basicamente o que se segue:

Importante para a América Latina a questão dos fundamentos e da manutenção dos fluxos de capitais durante a crise. Mas fundamental a presença da China.

Num estudo de modelo baseado nas relações entre as 26 maiores economias avançadas e emergentes, no período entre o último quadrimestre de 1979 e o segundo quadrimestre de 2008 puderam avaliar de forma eficaz o impacto do crescimento chinês sobre a América Latina.
Percebem claramente três canais ligando a China e a América Latina:
- Relações bilaterais diretas;
- Relações com os maiores parceiros da América Latina;
- Influência no mercado mundial de commodities.
Todos os três canais dão uma sensibilidade bastante alta para a relação. Algo do tipo se a China vai bem nós iremos bem. Mas se a China for mal certamente seremos muito afetados.

É ai que pega a questão da apreciação da moeda chinesa. Segundo a avaliação dos autores a apreciação da moeda gerará uma redução no ritmo de crescimento da China que não poderá compensar a queda das suas vendas externas com o aumento de vendas em seu mercado interno. A queda do ritmo de crescimento da China chegará para a América Latina pelos canais das relações bilaterais e da influência no preço das commodities. Haverá queda na demanda direta chinesa e queda nos preços das commodities.

Dito assim, defender a apreciação da moeda chinesa tem seu lado bom, mas o lado bom fatalmente trás de contrapeso o lado ruim. Segundo os autores uma apreciação de 10% no Yuan levaria a uma queda de 0,5% no crescimento chinês, 0,15% no crescimento americano e 0,3% no crescimento da América Latina.

Ainda segundo os autores a América Latina frente a uma apreciação do Yuan deveria reagir da seguinte forma:

• Em primeiro lugar, os países precisam fortalecer suas posições fiscais A América Latina aprendeu a lição da gestão fiscal prudente durante a crise recente. É preciso aperfeiçoar essas políticas, inicialmente controlando qualquer estímulo fiscal destinado a apoiar a demanda durante a crise e, em seguida, ajustar equilíbrios estruturais de acordo com considerações de sustentabilidade a médio prazo em suposições conservadoras de crescimento e condições de financiamento externo. Isto é especialmente importante à luz dos desenvolvimentos em curso na Grécia, bem como Portugal, Irlanda e Espanha.
• Em segundo lugar, os países latino-americanos devem abster-se de tentar controlar as taxas de câmbio. A história tem mostrado que os países que tentam controlar suas taxas de câmbio para evitar a especulação acabar com mais especulação. Ao deixar as taxas de câmbio flutuar livremente, os países podem criar mais incertezas no mercado, desencorajando ingressos especulativos.
• E, finalmente, a América Latina deve melhorar a sua competitividade na produção em comparação com a China. Deve investir mais em políticas que aumentem a produtividade. Em particular, como a emblemática monografia recentemente publicado sobre a Inter-American Development Bank sobre a produtividade na região argumenta (Pages 2010), a região precisa avançar com reformas estruturais e melhorar a infra-estrutura e educação, em um contexto no qual os custos de transporte prejudicam gravemente difusão de tecnologia e aprovação, através do comércio internacional.

Claro que existe a tese de que se conselho fosse bom não seria de graça. De qualquer forma a receita de três pontos não livraria o Brasil apenas da apreciação da moeda chinesa. Com certeza.

Demetrio Carneiro

(1)

Ambrogio Cesa-Bianchi
PhD student, Catholic University of Milan; Research Assistant in the Research Department, Inter-American Development Bank

Hashem Pesaran
Professor Economics, University of Cambridge; John Elliott Chair and Professor of Economics at the University of Southern California; Professorial Fellow of Trinity College, Cambridge

Alessandro Rebucci
Senior Research Economist in the Research Department of the Inter-American Development Bank