No Brasil controle exercido pelo presidencialismo é
absoluto. Estamos muito longe de uma República Federativa. Todos sabem disso e
Dilma especificamente deixa claro todo
momento. Vivemos uma democracia de
maiorias fundada na zona de conforto imediato de um amplo segmento do
eleitorado nada disposto a arriscar as conquistas dos anos recentes. Esta é outra
questão que todos sabem, também...
O viés autoritário/estatizante somado ao poder de quem
assina as faturas dá ao Executivo
Central capacidades importantes na relação com o seu suposto “controlador” o
Congresso Nacional. A lição de Collor ensinou que é preciso manter o Congresso
no cabresto curto. E é assim que se faz: a gestão do parlamento pela via das
MPs. O Congresso pode tudo, desde que não perturbe a trajetória já decidida
pela presidência.
Esse quadro torna uma matéria, com base em depoimentos,
sobre Dilma importante sinalizadora do sentido e da velocidade das coisas no
Brasil. Olhando para Dilma o FT ( a matéria foi parcialmente repercutida pelaVeja e agora está na edição em português do FT, lançada hoje) vê o Brasil nos
seus próximos momentos e não vacila em criticar a falta de alternativas à
limitada proposta de promoção da dita “classe média emergente”. Limitada
proposta por não lidar com os entraves institucionais e estruturais.
Dilma parece imaginar que a simples existência de um amplo
mercado emergente de consumo resolve todas as coisas. No fundo é uma proposta
totalmente liberal ao inverso...Para os liberais é deixar o mercado livre para
agir que tudo acontece per si. Para Dilma a presença dessa imensa massa de
consumidores, desde que mantido seu poder de compra, per si trará outras
mudanças. Cabe ao Estado intervir contra qualquer que pareça o obstáculo a esse
“caminho natural”. A questão está no que se considera obstáculo. Para Dilma são
todos os que estão aqui e agora. O futuro pertence ao futuro.
Provavelmente pensando nas travas estruturais e institucionais o Tony comenta na mesma matéria que Dilma pode escolher entre crescer a mais de 3%, com inflação alta ou crescer abaixo de 3%, com uma inflação moderada: "Tony Volpon, economista da Nomura, em Nova York, afirma que
a taxa potencial de crescimento do Brasil - a velocidade em que o pais pode se
expandir sem gerar inflação alta - caiu de 4 por cento na última década, para
mais perto de 3 por cento. Isso porque o crescimento na última década foi, em
parte, o resultado da entrada de novos trabalhadores na força de trabalho formal de pessoas que se juntam a força de trabalho formal. Hoje, com o desemprego relativamente baixo, a vantagem desapareceu.
A matéria reconhece mudanças positivas, mas é sintomática de um momento em que os investidores
vão ficando arrepiados com as atitudes intervencionistas e ao mesmo tempo
atentos para os problemas fiscais que vão se anunciando no horizonte. Já vai se
firmando a noção de que o baixo crescimento vai resultar em queda efetiva da
tributação, que somada às desonerações provavelmente colocarão a poupança
pública abaixo do previsto no superávit primário. Fora de dúvida haverá
reflexos não apenas no pé no freio dos investimentos, mas também nos custos da
rolagem da dívida. Talvez por não poder responder com muito mais gastos Dilma
tenha se irritado com a generosidade fiscal americana.
Demetrio Carneiro