Pacífico, me parece, que o termo Sociedade de Transição se refere a uma sociedade que transita do insustentável para o sustentável.
Imagino que todos concordam que a sociedade brasileira é, no conjunto, insustentável, que não temos hoje meios de garantir para as próximas gerações os mesmos serviços ecossistêmicos dos quais usufruímos hoje. A ser verdadeira a afirmação a leitura estratégica sobre nosso futuro deveria então ter que lidar com o conceito de transição.
Programas de governo são leituras estratégicas sobre o futuro. Por qual razão, então, nenhum dos programas de governo apresentado incorpora o conceito de Sociedade de Transição?
Talvez por que seja preciso antes de tudo reconhecer o caráter insustentável de nosso projeto civilizatório nacional, o que leva ao custo político de admitir que algumas medidas sustentáveis e corretas não transformam o conjunto do projeto em projeto sustentável no longo prazo.
Talvez por que seja preciso admitir a necessidade de uma Economia da Transição que ataque em profundidade o atual modelo de industrialização, ainda e infelizmente, fundado na economia do alto consumo de carbono.
Talvez por que a revisão da Matriz Energética, da Matriz de Transportes e Logística, dos grandes projetos habitacionais, da circulação e mobilidade urbana, da desconcentração urbana, dos Projetos de Desenvolvimentos de C,T & I, dos Projetos Nacionais de Ensino e Capacitação que precisam estar voltados para a Inovação e a Economia Verde, do aprofundamento da glocalização, precisem ser mais que intenções e devam ser todos integrados num único projeto de transição.
Talvez por que seja necessário repensar a relação entre qualidade de vida e consumo, quando o consumo predatório e irresponsável fica no topo do projeto de crescimento da economia.
Questionar tantas frentes tem alto custo eleitoral, pois retira os eleitores de todas as classes e segmentos de sua zona de conforto geracional. É, há sim uma zona de conforto geracional, mesmo que haja desconforto relativo dentro dela. Todos estão confortáveis em não ter que pensar a sua responsabilidade frente às gerações futuras. Ou não é verdade?
É provável que a manutenção do conforto geracional como forma de garantir a sobrevivência política estejam na base das escolhas programáticas que evitam o debate da Sociedade de Transição. Fica mais fácil, então, falar em propostas que se dispersam e não enfrentam a questão principal, sustentabilidade genérica ou muito específica, mas não da necessidade de garantir a equidade intergeracional.
É. Não há como garantir a equidade intergeracional se não adotarmos a Sociedade de Transição.