Segundo Neri(1):
O crescimento da classe C deve englobar cerca de 60% da população em 2014, chegando a 118 milhões de pessoas. Em 2003, a classe C representava apenas 65,8 milhões de pessoas.
Essa nova classe C tem menos de dois filhos em média. Se compararmos com a década de 60, o número médio de filhos era superior a seis, conforme a publicação. Agora a classe C está mais preocupada com a educação desses filhos e com o emprego formal.
O crescimento da Classe C no Nordeste foi de 42% de 2003 até 2011. No sudeste, o crescimento foi de 16%.
Matéria da Folha de hoje(2), domingo, trata de pesquisa de consumo da Nielsen.
A reparar o efeito da inflação no padrão de consumo. Nos segmentos de renda mais baixa, comparativamente com anos anteriores, o ano de 2014 tem sido de forte retração para a chamada classe C. Os números são medidos até abril, mas a se imaginar que não mudem expressivamente pelo resto do ano, este ano o consumo deste segmento é significativamente menor numa série que começa em 2009:
2009 - 22
2010 - 34
2011 - 34
2012 - 39
2013 - 16
2014 - 5,3
A empresa de pesquisa de mercado debita o fenômeno de forte redução de consumo à conjugação de fatores negativos da inflação e do endividamento. Este comportamento ainda pode ser aliado ao resultado de outras pesquisas, com base no CAGED, que indicam uma relativa redução da massa salarial. O que se vê aqui está refletido de alguma forma nas pesquisas eleitorais. Também já se detecta do problema por meio da expensão das expetativas de inadimplência.
Especialmente a inflação é perversa com os segmentos de menos poder aquisitivo que não possuem muitas defesas contra o processo inflacionário. De um lado estamos num longo processo onde o próprio governo foi defensor do gasto familiar e pouco ou nada fez para estimular a formação de poupança. De outro o aumento dos preços de produtos alimentícios, higiene e saúde pesa muito mais no bolso dos segmentos de menor renda, comprometendo a renda familiar. A pesquisa mostra mudanças de hábito inclusive na classe B que busca aumentar as refeições em casa em detrimento das refeições fora de casa.
Tanto o esgotamento do modelo de consumo pela expansão do crédito e não pelo aumento da renda salarial decorrente do aumento de produtividade, como a relativização da inflação são escolhas no como conduzir a política econômica e, em parte explica por qual razão a economia não reage às medidas governamentais.
Embora essas questões não pareçam haver sido capturadas de forma propositiva consistente nos Programas de Governo o fato é que aos poucos os segmentos que formam a classe C vão sendo tirados da sua zona de conforto e isto pode ter reflexos na hora do voto. A se ver como será.
(1) Neri parece que gostou de conceitos amplos, como quando trabalhou com a questão das pessoas com deficiência e decidiu que um quarto de toda a população brasileira tem "algum tipo de deficiência", que pode ser desde alguém que precisa de óculos para dirigir até o cego total.
No caso desta invenção que transforma em classe social um segmento de população extremamente heterogêneo ele foi ainda mais criativo.
(2)http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2014/07/1485156-classe-c-ja-nao-e-motor-do-gasto-em-supermercados.shtml