Acho que Aécio comete os mesmo equívocos de Campos ao lidar
com a classe média emergente.
Um dos pontos fortes do discurso de Jango no famoso comício
da Central do Brasil foi a proposta de uma reforma imobiliária urbana. A lei
punia severamente imóveis fechados e chegava até a desapropriação por interesse
social. Lembro de matérias da Última Hora da época que havia apurado na cidade
do Rio de Janeiro um grande grupo de proprietários de imóveis que chegavam a
ter até mais de mil apartamentos individualmente.
A concentração, a desorganização da expansão dos espaços
urbanos e o uso especulativo da terra geraram um enorme déficit habitacional no
Brasil. Os generais da ditadura civil-militar perceberam o drama e encaixaram
eficientemente o fim da estabilidade, o FGTS, com uma política habitacional
para a baixa classe média, o BNH. Ao longo dos anos a proposta acabou
contaminada tanto pelo patrimonialismo, quanto pela especulação urbana até seu
melancólico fim.
No DF o execrado Roriz só se mantém no topo das preferências
de voto por ter sabido aproveitar a confusa estrutura de propriedade da terra
no território do DF em favor de seu grupo. Gerou uma potente caixa dois, mas
também gerou centenas de milhares de beneficiários por sua reforma agrária
urbana informal.
O Minha Casa Minha Vida teve a sacada de quem entendeu que
um dos dramas mais fortes das famílias mais pobres que vivem nos centros
urbanos é a questão do aluguel e sua instabilidade. Para os proprietários a
situação ainda é uma maravilha. Especialmente para aqueles que usam os imóveis
sequer para alugar, mas apenas como investimento. Famílias muito pobres vivem
situações mais dramáticas amontoadas em cabeças de porco, sem qualquer
segurança jurídica e em situações insalubres.
O problema com o MCMV é que a sacação foi apenas midiática e
o plano acabou seguindo a mesma lógica que levou ao corner o projeto do BNH:
acordos patrimonialistas e especulação urbana.
O grande desafio não é “finalizar obras iniciadas e que
forem importantes”. O grande desafio é manter a proposta de construção de casas
populares até, não vou dizer eliminar, mas reduzir de forma significativa o
atual déficit.
A proposta da casa popular num espaço urbano 100% especulado
traz desafios de gestão poderosos, mas é preciso perceber que se trata de
oferecer qualidade de vida e ela começa por haver um lar seguro.
A arquitetura de planos grandiosos é bem simpática e impressiona, mas, como se diz, o diabo pode estar nos detalhes...
http://coturnonoturno.blogspot.com.br/2014/07/plano-de-governo-de-aecio-promete-cinco.html