sábado, 5 de julho de 2014

PLANO DE GOVERNO DE AÉCIO TAMBÉM NÃO CONSEGUE DIALOGAR COM A CLASSE MÉDIA EMERGENTE



Acho que Aécio comete os mesmo equívocos de Campos ao lidar com a classe média emergente.

Um dos pontos fortes do discurso de Jango no famoso comício da Central do Brasil foi a proposta de uma reforma imobiliária urbana. A lei punia severamente imóveis fechados e chegava até a desapropriação por interesse social. Lembro de matérias da Última Hora da época que havia apurado na cidade do Rio de Janeiro um grande grupo de proprietários de imóveis que chegavam a ter até mais de mil apartamentos individualmente.

A concentração, a desorganização da expansão dos espaços urbanos e o uso especulativo da terra  geraram um enorme déficit habitacional no Brasil. Os generais da ditadura civil-militar perceberam o drama e encaixaram eficientemente o fim da estabilidade, o FGTS, com uma política habitacional para a baixa classe média, o BNH. Ao longo dos anos a proposta acabou contaminada tanto pelo patrimonialismo, quanto pela especulação urbana até seu melancólico fim.



No DF o execrado Roriz só se mantém no topo das preferências de voto por ter sabido aproveitar a confusa estrutura de propriedade da terra no território do DF em favor de seu grupo. Gerou uma potente caixa dois, mas também gerou centenas de milhares de beneficiários por sua reforma agrária urbana informal.

O Minha Casa Minha Vida teve a sacada de quem entendeu que um dos dramas mais fortes das famílias mais pobres que vivem nos centros urbanos é a questão do aluguel e sua instabilidade. Para os proprietários a situação ainda é uma maravilha. Especialmente para aqueles que usam os imóveis sequer para alugar, mas apenas como investimento. Famílias muito pobres vivem situações mais dramáticas amontoadas em cabeças de porco, sem qualquer segurança jurídica e em situações insalubres.

O problema com o MCMV é que a sacação foi apenas midiática e o plano acabou seguindo a mesma lógica que levou ao corner o projeto do BNH: acordos patrimonialistas e especulação urbana.

O grande desafio não é “finalizar obras iniciadas e que forem importantes”. O grande desafio é manter a proposta de construção de casas populares até, não vou dizer eliminar, mas reduzir de forma significativa o atual déficit.

A proposta da casa popular num espaço urbano 100% especulado traz desafios de gestão poderosos, mas é preciso perceber que se trata de oferecer qualidade de vida e ela começa por haver um lar seguro.

A arquitetura de planos grandiosos é bem simpática e impressiona, mas, como se diz, o diabo pode estar nos detalhes...

http://coturnonoturno.blogspot.com.br/2014/07/plano-de-governo-de-aecio-promete-cinco.html