sexta-feira, 30 de março de 2012

ONDE FALHA A INTENÇÃO BRASILEIRA NO BIO COMBUSTÍVEL

Em entrevista dada pelo presidente da Embrapa, Pedro Arraes, sobre a produção brasileira de biocombustível algumas peças do quebra-cabeça da produção de biocombustível brasileira são postas na mesa. O termo é quebra-cabeça mesmo, já que fica difícil explicar as razões pelas quais um país que tem todos os elementos para produzir biocombustível em escala não o faz.

Bom registrar que a matéria da agência estatal Agência Brasil, e repercutida pelo InovaçãoTecnológica, abre avaliando em específico a produção de biocombustível na zona do Semiárido nordestino. Lembrando que a iniciativa de Lula foi hiper-super dimensionada pela mídia como uma espécie de projeto de profundo impacto social e perfeita integração com os propósitos de uma economia verde, gerando empregos verdes. Uma iniciativa louvável em todos os sentidos. Segundo a própria matéria quatro anos depois não aconteceu nada de relevante. Uma situação típica dos mirabolantes de delirantes projetos do PAC. É disto que trata a entrevista, desvendando uma parte do uso manipulatório das informações. Mesmo que obviamente não fosse esta a intenção tanto do editor como do entrevistado.

O presidente da Embrapa reforça um desalinhamento entre a produção e o fornecimento dos insumos como um importante fator.

Assinala que não teria se dado por maldade, mas por pressa em resolver o problema. “A velocidade da política nem sempre é a velocidade da técnica”, teria mencionado.

"Não acredito que seja má intenção, é a vontade de resolver um problema. A Embrapa é vendedora de sonho. Então, às vezes a gente vai ao local e fala com uma plateia e a pessoa toma aquilo como pronto e já vira verdade, e não é feito estudo econômico, de sustentabilidade, social," explicou em outro trecho da entrevista. Enfim, vender sonhos é o papel de todo centro de pesquisa. Comprar sonhos e vendê-los como realidade empresta ao governo uma outra definição bem diferente...
Postas as coisas desta forma só resta comentar que o inferno está cheio de boas intenções e que o estelionato eleitoral não é bem uma delas.
Faltou ao entrevistado mencionar que outro       sonho atravessou na avenida da política o sonho do biocombustível: O Pré-Sal e seus bilhões de reais de impostos, milhares de empregos etc. Da mesma forma que Lula foi flexível o suficiente para mudar o objetivo de seu segundo PPA, 2007-2011, de Qualidade na Educação Básica para o famigerado PAC, mudamos, e mais ou menos no mesmo período, de biocombustível para o velho e conhecido petróleo e sua cadeia produtiva por conta do Pré-Sal.
Deixar nas mãos da Petrobras, completamente instrumentalizada e vocacionada para extrair, processar e vender o óleo do Pré-Sal, a questão dos biocombustíveis foi um erro. Dobrado quando se olhou para o álcool combustível e o açúcar como fontes alternativas de renda de exportação de commodities.
Quer dizer, houve ma fé sim, mas o problema foi piorado pela mudança da estratégia governamental. Noves fora não sobra nada! E continuará não sobrando enquanto for o projeto geral for o que é e tiver a qualidade que tem.
Demetrio Carneiro

Biodiesel: Política atropelou tecnologia, diz presidente da Embrapa
Com informações da Agência Brasil - 20/03/2012
Vendedores de sonhos
Cerca de quatro anos após o governo estimular intensamente a produção da mamona e do pinhão-manso para fabricação de biodiesel, como forma de resolver o problema de renda dos produtores do Semiárido nordestino, o projeto ainda não vingou.
Segundo Pedro Arraes, presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), houve uma precipitação em se lançar programas antes de um estudo completo sobre a viabilidade econômica, de sustentabilidade e social, além de pesquisas mais avançadas.
"A velocidade da política nem sempre é a velocidade da técnica", disse.
Para Arraes, as políticas públicas precisam respeitar o tempo da pesquisa.
"Não acredito que seja má intenção, é a vontade de resolver um problema. A Embrapa é vendedora de sonho. Então, às vezes a gente vai ao local e fala com uma plateia e a pessoa toma aquilo como pronto e já vira verdade, e não é feito estudo econômico, de sustentabilidade, social," explicou.
Mamona, pinhão-manso e dendê
No caso da mamona, ele explicou que um dos problemas foi a falta de capacitação dos pequenos agricultores para tirar a toxidade da planta.
"Falaram assim [para os agricultor]: você planta mamona que vai produzir. Não se combinou com os maiores atores, que são os pequenos produtores. Às vezes, essas políticas vêm de cima, como se tudo tivesse resolvido, e não está", acrescentou.
No caso do pinhão-manso, o problema se repetiu.
"Trouxeram uma planta que é silvestre e disseram que ia resolver o problema do Brasil. Tem gente que plantou 2 mil hectares e está abandonada. Não trabalharam a qualidade do óleo, a maturação [da planta] é totalmente desuniforme, como vai colher isso aí?" indagou Arraes.
Um exemplo de programa bem estruturado, segundo ele, é o do dendê para a produção de óleo.
"Esse é um programa que nasceu com política de crédito associada à técnica e ao zoneamento", disse.
Segundo o presidente da Embrapa, os produtores de dendê da Região Norte se associaram e fecharam contratos com empresas que se comprometeram a comprar todo o produto.
Arraes destacou ainda os estudos sobre combustível florestal.
Segundo ele, o metanol da madeira pode ser uma alternativa, principalmente para os pequenos produtores, onde a agroenergia ainda é tida como desafio.
"Temos uma palmeira, a macaúba, que é de terras altas, tem 40% de óleo e é bastante rústica. Esta pode ser uma alternativa interessante para o pequeno produtor. Mas, ainda está sendo estudado. Depois que acharmos a tecnologia, temos que pensar em que território [o plantio] é viável, que tipo de organização será necessária e qual link com a iniciativa privada precisa ser feito para você esmigalhar isso", declarou.
Agricultura mais verde
Outro assunto abordado pelo presidente da Embrapa é o que ele chamou de "uma agricultura mais verde".
Segundo o presidente da estatal, Pedro Arraes, a contribuição da Embrapa para o projeto de sustentabilidade do setor, é, principalmente, oferecer subsídios científicos que permitam ao país ter clareza do que é a agricultura brasileira e de como funcionam seus sistemas produtivos.
A ideia é aproximar os estudos tecnológicos voltados para agricultura às metas de sustentabilidade ambiental definidas pelo governo federal.
"A gente tem que fazer esse inventário das tecnologias, com critérios científicos de sustentabilidade. O papel fundamental da Embrapa é colocar ciência nessas discussões, oferecendo parâmetros e ferramentas para que o produtor faça a escolha dele, pensando o ganho que pode ter a mais preservando água, por exemplo, e abrindo mercado para sustentabilidade nas três dimensões [social, econômica e ambiental]", destacou Arraes.
Nos últimos anos, a empresa tem sido alvo de críticas feitas por setores que questionaram os impactos de estudos polêmicos, como é o caso dos transgênicos.
Por outro lado, especialistas apontam a Embrapa como uma das grandes responsáveis pela poupança de recursos naturais do país.