domingo, 4 de março de 2012

A CANDIDATURA SERRA

O arraial petista começa a ficar assustado, mas não apenas ele.

De início, quando Lula resolveu intervir na campanha da prefeitura de São Paulo, alguns como Marta Suplicy ficaram muito incomodados. Querendo repetir o efeito poste, que deu certo com Dilma, o ex-presidente preferiu plantar na cidade alguém da sua safra pessoal de amigos, o incompetente e inconveniente ex-ministro da educação: Haddad. De fato, se Haddad ganha a prefeitura seria a coroação do grande mestre, capaz de dar vida às pedras, transformar tudo apenas pelo seu toque. Caso raro na literatura de ciências políticas.

Para o partido de Lula, o PT, não é um desafio para construir uma biografia, mas um desafio pela sobrevivência política. Os estrategistas partidários já se deram conta de que se não tiver uma forte base municipal o partido será um eterno refém das outras forças políticas e jamais será capaz de seguir em frente com seus projetos. Trocando em miúdos a estratégia petista foi vender a alma ao diabo: patrimonialismo e sindicalismo, para chegar e se manter no poder. Apenas não se deram conta: Primeiro, que o patrimonialismo é pervasivo e podia, como pode, atacar as bases éticas do próprio partido; Segundo, que o projeto patrimonialista não tem qualquer afinidade com mudanças de fundo. O resultado é que o projeto original está enterrado debaixo de sete palmos de pragmatismo.

No caso São Paulo, ter a prefeitura de São Paulo, tem um poder simbólico importantíssimo: Rompe o monopólio oposicionista na mais importante capital brasileira e dá meios de atacar por dentro a presença histórica da oposição no governo do maior estado do país. Seria um duplo bônus e certamente a entrada de Lula na disputa animou corações e mentes. Uma perspectiva vencedora em SP seria fundamental para irradiar uma mensagem de otimismo aos quadros petistas em todo o país, estimulando o ego partidário.
Seja como for a entrada de Lula na disputa e a explicitação da estratégia nacional à medida em que isso foi ficando mais claro, deram ao pleito um caráter diferente, muito diferente, e o sinal vermelho acendeu no arraial oposicionista. De momento alguns setores dentro e fora do PSDB ainda não entenderam bem o que está em jogo e de alguma forma podem contribuir para complicar as coisas. Há insatisfeitos de ambos os lados.

A mudança de quadro acabou tornando possível o que parecia inviável, mas é assim que a política funciona, desmoralizando rapidamente as previsões muito rígidas. Serra deve sair candidato e dar uma resposta oposicionista nacional ao que era um simples pleito local. Serra candidato desestabiliza planos de um lado e de outro. Serra vencedor quebra a lógica de construção de poder na situação e desfaz o sonho que se construiu a partir do ego de Lula de plantar mais um candidato poste.

Há muitas vantagens na candidatura de Serra e alguns problemas bem sérios. A começar pela forte rejeição  na cidade de São Paulo. O candidato alia um alto índice de intenções de votos a um quase tão alto índice de rejeição. Não será uma campanha fácil e Serra terá que mudar de estilo, se quiser realmente ser vitorioso. A campanha de 2010 não foi uma campanha fácil e o próprio Serra ajudou muito a piorar, pois seu ego não é muito menor que o ego de Lula.

Seja como for Serra tem a chance de finalizar a sua carreira, não é exatamente um botão em flor, com uma vitória muito significativa. Não resta qualquer dúvida sobre suas qualidades como gestor e terá condições de produzir o governo exemplar e provavelmente paradigmático. 

Difícil dizer até onde isso acalma Aécio e seus planos presidenciais. Talvez um grande sucesso eleitoral e uma excelente gestão nos dois primeiros anos sejam excelentes para o conjunto da oposição, mas pode ser que só sirvam para inquietar o senador, no mínimo por transformar seu ex-adversário em um fortíssimo voto no colégio eleitoral oposicionista.

Tudo está a se conferir, mas o jogo está sendo jogado.

Demetrio Carneiro