Numa sociedade fortemente impregnada pelo pensamento nacional-desenvolvimentista como a brasileira mudança de eixo por conta de novos paradigmas pode ser um problema.
Nossa sociedade se acostumou a ver o progresso como uma acumulação de bens materiais muito desejáveis, percebe isso como um parâmetro evidente de qualidade de vida e não se questiona sobre os processos que viabilizam esta acumulação. A existência da posse do bem, os sinais externos de status parecem ser suficientes e não importam muito questões como a concentração de renda e poder. Da mesma forma que as questões de concentração de renda e poder não são muito importantes, também não importa muito o grau de dano ambiental, seja pela poluição, seja pela depleção dos recursos não renováveis.
A noção de progresso também não parece lidar muito bem com os bens e serviços públicos. De modo geral a postura da sociedade é passiva e a-crítica quanto ao papel do Estado enquanto provedor de bens e serviços. Mesmo que haja um forte debate entre os formadores de opinião quanto ao papel do Estado, sua estrutura, seus processos, a sociedade mesmo parece passar ao largo dele, o que com toda certeza explica por qual razão os agentes e partidos políticos não têm muito foco na qualidade dos bens e serviços públicos.
A leitura nacional-desenvolvimentista está fixada na geração de empregos e como toda leitura keynesiana etá sempre focada no pleno emprego. É para o pleno emprego que são orientadas as políticas econômicas. Há um link direito e imediato entre pleno emprego e qualidade de vida. A suposição é de que acumulação do produto gera a riqueza e que a riqueza de alguma forma alcança a sociedade seja pela via do mercado ou seja pela via do Estado, se for o caso de corrigir distorções originadas nas falhas de mercado. Simples assim.
A simplicidade sempre é desejável em políticas públicas. O problema é que há confusão entre simplicidade e olhar. A simplicidade é desejável se ela se dá a partir de um olhar holístico. Ou seja, é muito bom produzir políticas públicas de formato bem simples se tivermos uma clara concepção do quanto aquela parte é parte de um todo muito mais complexo e de como aquela parte se relaciona com o todo.
Trocando em miúdos as políticas nacional-desenvolvimentista de pleno emprego são cegas em relação ao ambiente onde estão inseridas. Isso ficou muito claro com a possibilidade de queda do produto quando o governo Dilma decidiu por estimular a indústria de automóveis. A coalizão de governo, enquanto um poder político concreto dentro do Estado lida com sua sobrevivência política imediata. O que está em jogo são sempre as próximas eleições e as próximas eleições acontecem sempre nos próximos dois anos.
Dai questões de pleno emprego são questões imediatas. Sempre. Não muito espaço para políticas alternativas de emprego que não sejam aquelas que podem impactar a base econômica que já existe.
Novas questões como os "empregos verdes" ficam relegadas aos planos e brasileiramente falando planos são declarações de intenções e não eixos firmes para a construção de propostas de trabalho. Na atual visão pública o plano é um produto para a mídia, pois o dia-a-dia é fundamentalmente reativo à conjuntura.
Na realidade o Estado brasileiro tão é pautado pelo futuro, mas apenas pelo presente.
Nesse sentido por mais que o emprego verde seja uma escolha para o futuro, em favor das gerações futuras, por mais que o emprego verde seja uma possibilidade de criação de novos postos de trabalho perante a evidência de eliminação de antigos postos de trabalho, por mais que os empregos verdes estejam necessariamente vinculados às inovações e que as inovações façam parte do ciclo de destruição criativa, por mais que os empregos verdes sejam uma boa alternativa de sustentabilidade ambiental frente a um modelo nítido de depleção de recursos naturais não renováveis e gerador de danos ambientais, se apenas o presente interessa, então essa é uma questão não relevante.
Infelizmente Estado nacional-desenvolvimentista e sociedade se dão as mãos, na questão do emprego verde. As próprias centrais sindicais estão completamente alienadas desta possibilidade. Por mais triste que possa parecer preferimos o presente que nos parece muito seguro. Apenas ele não é.
Demetrio Carneiro