terça-feira, 1 de novembro de 2011

ALGUMA REFLEXÃO SOBRE INSTABILIDADE MUNDIAL , DEMOCRACIA INTERNA E A SOBREVIVÊNCIA POLÍTICA DAS COALIZÕES DE PODER

O FMI ontem lançou uma série de papers discutindo o papel da instituição na busca da estabilidade global. Martin Wolf, articulista do Financial Times e Joseph Stilgitz, Prêmio Nobel de Economia, com diferentes, mas bem próximos graus de pessimismo e críticas abrem uma longa série com mais de 10 diferentes textos tratando do tema.

O interessante é notar que o trilema de Dan Rodirk continua na ordem do dia: Basicamente o argumento é que não há como alinhar no mesmo tempo político uma coordenação de ações entre Estados –Nação soberanos e sensíveis às suas populações locais. No que nos interessa agora o trilema acaba se reduzindo a um dilema que a conjuntura atual expõe com clareza: Ou se atende a regras de estabilidade global ou se atende às crescentes demandas das populações locais. Enfim, uma democracia global, atender aos interesses do conjunto, pode não ser compatível com uma democracia local, atender aos interesses de uma dada população.

Este é um problema fortemente conectado com questões de sobrevivência de coalizões politicas no poder, as escolhas feitas e os riscos que se correm para lá se manterem. Um debate interessante nesse momento em que a coalizão aqui no Brasil também assume riscos.

O ponto de partida desse problema pode ser o fato de que nenhum orçamento público parte do zero e todo orçamento público agrega sempre mais alguma coisa ao orçamento passado. Coalizões de governos respondendo ao voto e sensíveis às sempre crescentes demandas ao Estado por mais qualidade de vida, a escolha pelo crescimento, em algum momento desalinharão tributação, cujo crescimento tem um limite político, e gasto. É uma forma perversa de preferência pelo presente. O indivíduo prefere gastar a poupar e quer que o Estado gaste. Mas o Estado para gastar precisa tributar quando a tributação já está no seu limite político de tolerância. A única saída é o “gasto silencioso”, criando dívida pública. Isto explica por qual razão a maioria dos estados europeus não cumpriram Maastrich e países como a Itália ou a Grécia estão no dobro do limite acordado.

As coalizões politicas não estavam interessadas em testar sua população local quanto às normas de estabilidade global. Politicamente é mais simples, e dá mais votos, gastar & dever. O problema é que quando há um país desalinhado é uma coisa. Quando há muitos e todos são do Centro, é outra bem diferente e o sistema como um todo caminha, como está caminhando, para a desestabilização. Anotando, conforme Stiglitz, que este não é um problema apenas europeu.

Na desestabilizção aparece o segundo problema: As populações locais não querem abrir mão de sua qualidade de vida e não estão dispostas a abrir mão das vantagens auferidas antes, na boa época. Estados debilitados por dívidas crescentes não são capazes de constituir fundos de reserva para esses momentos.
Ai começa a caçada às bruxas que é uma excelente forma política de ninguém assumir sua parcela de culpa no processo. Para isso nada melhor que um bode expiatório e nesse campo nada melhor do que acusar o “capitalismo expoliador” ou “o financismo predatório” etc. Evidentemente na época de ouro do crescimento ninguém estava preocupado em saber de onde vinha tanto progresso, das bolhas especulativas que geraram essas dinâmicas, desde que se configurasse em mais bens e serviços públicos.

É o que está acontecendo na Grécia, nos EUA e em muitos outros países. A vontade de revolução vai para as ruas, superando rapidamente os catatônicos partidos políticos, incapazes de agir positivamente. A única questão é: Substituir o quê pelo quê? Debitar a culpa ao capitalismo pode ser uma boa forma de escapar da própria culpa ou da culpa das coalizões políticas que se deixaram conduzir docemente pelo clima de progresso, que parecia eterno, num ambiente de muitas cigarras e nenhuma formiga.

Agora resta a questão de alinhar populações revoltadas com a perda de sua qualidade de vida com as necessidades de um sistema internacional que precisa de um mínimo de equilíbrio para seguir funcionando. Movimentação complicada sem que se esclareça e fique visível todo o esquema político de facilitação cedido pelas coalizões e que viabilizou esses fatos.

Demetrio Carneiro