quinta-feira, 3 de novembro de 2011

OS EQUÍVOCOS, INTENCIONAIS, DE ANÁLISE DA VITÓRIA CONSERVADORA NO DCE DA UNB

A vitória dos alunos não vinculados a partidos políticos nas eleições para o DCE da UNB deixou muita gente perplexa e agora começam a aparecer análises como a realizada no Congresso em Foco.

No contexto das avaliações que tenho lido essa do Congresso em Foco fica na média e a média parte dos seguintes elementos:

a) A chapa vitoriosa é de direita;

b) A chapa só foi vitoriosa “por culpa” da esquerda que não soube se unir e desprezou a capacidade de trabalho da "direita".

Nesse tipo de análise nenhuma discussão sobre o aparelhamento do movimento estudantil, formação das entidades governo-dependentes, em geral e a tentativa de manipulação dos estudantes universitários em particular.

Nenhuma discussão sobre a formação de uma elite profissional de estudantes unicamente voltada para sua própria sobrevivência e que usa dessa dicotomia esquerda-direita para se dar bem. No caso a direita é tudo que não forem eles próprios.

Nenhuma discussão sobre a qualidade dos projetos de cada chapa. Seria interessante colocar os programas de propostas "revolucionárias" visando, por exemplo, a luta das massas contra  a exploração dos oprimidos em confronto com propostas como a transformação do DCE numa estrutura parlamentarista, democratizando as relações entre os DAs e o DCE.

Nenhuma discussão sobre se os estudantes não estão cansados de debates libertários em geral, mas que não tratam da questão principal que é a qualidade do ensino universitário e sua adequação não às necessidades da “revolução” ou do aparelhamento das instituições universitárias, mas ao mercado de trabalho. Aliás a “esquerda” trata essa adequação ao mercado de trabalho como se fosse um problema burguês, indigno de suas altas preocupações. Claro, a Elite já se deu bem e terá o seu futuro garantido na máquina do governo...

Nenhuma discussão sobre o autoritarismo evidente. Sobre a visão complemente mentirosa que diz lutar pela diversidade, mas só vê nos grupos que se auto-denominam “esquerda” legitimidade para representar os estudantes. Não se fala sobre a recusa de aceitar a rotatividade de poder, elemento básico de qualquer proposta democrática.

A escrita quase lamentosa comenta o papel do DCE na luta contra a ditadura, cita personagens ilustres e governistas, que passaram pelo DCE, comenta o nome atribuído à entidade em homenagem a um estudante “de esquerda” e parece chocada com a possibilidade da “direita”, nessa leitura a mesma do golpe de estado, estar ocupando o ícone do poder de esquerda na UNB.

Mais confusão, afinal o movimento que levou ao fim da ditadura civil-militar foi muito mais amplo do que a atual base de governo “esquerdista” – PT, PSB, PC do B, PDT etc.- quer fazer crer. Aliás, era inclusive mais amplo até do que o próprio conceito de esquerda, pois incluiu segmentos de diversos matizes e até sem matiz. O que vemos aqui é a mistificação. O engodo. A apropriação autoritária da história. Bem típica dessa forma de perceber o mundo.

Evidentemente a reação não se fez esperar e veio da Reitoria, talvez preocupada em como essa vitória inesperada interfere nas próximas eleições da UNB. Um comunicado interno expedido pela Secretaria de Comunicação já instalando o clima diferente procurando produzir “vítimas”. Lá é citado o comentário de um “especialista”, com respeito à vitória da chapa conservadora que teria receio de se identificar temendo reações e que, portanto, ficaria anônimo. Ele está certo, afinal a "direita" é aliada dos "esquadrões da morte". quem sabe o especialista por ter uma opinião diferente não poderia ser assassinado por esta turma? Interessante é que foram os membros da chapa vencedora que foram intimidados e ameaçados pelos estudantes "de esquerda".

Efetivamente não houve uma derrota da “ esquerda”, desse agrupamento de tem uma auto-visão idílica e redentora. O que houve foi a vitória de uma linha de defesa de interesse dos estudantes e fortemente voltada para preocupações concretas. Uma linha que sabe se posicionar de forma muito clara contra o profissionalismo picareta disfarçado de proposta progressista ou revolucionária. 
Seria muito bom que os alunos de outras universidades tomassem a mesma atitude. Talvez ai fosse possível eliminar as estruturas chapa-branca do movimento estudantil como a UNE, UBES e suas crias estaduais e DCEs.

Talvez outra coisa exaspere aos derrotados ou pelo menos a alguns dos derrotados que tenha ido um pouco além dos manuais básicos é que boa parte do instrumental- accountability, cidadania frente aos Estado, crítica ao Estado levita, crítica às relações entre o Estado e os monopólios e oligopólios - que hoje auxilia na análise da coalizão vencedora, de suas alianças, que auxilia desmascarar e expõe a falsidade dessas propostas autoritárias e de sobrevivência individual, disfarçadas de “revolucionárias”, vem justamente do liberalismo...
Preceitos de accontability aplicados na UNB podem gerar um debate bem interessante.

Maliciosamente o oportunismo tenta misturar alhos e bugalhos, posando de vítima. Certamente a tentativa de “carimbar” nesse DCE o rótulo de “direita”, na medida em que direita no Brasil é sinônimo de reação, repressão, desigualdade, deixará muitos estudantes confusos. Mas ainda iremos ver se vai funcionar.

Demetrio Carneiro