sexta-feira, 4 de novembro de 2011

INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES E CRESCIMENTO BRASILEIRO : DETALHES QUE PODEM FAZER A DIFERENÇA

Ninguém pode dizer que governar é fácil. Bem, talvez quem navegue em certas mares de facilidade, como um ambiente internacional fortemente propício até ache isso. Mas de modo geral governar não é fácil e as escolhas, governar envolve escolhas, são difíceis.

Em agosto desse ano a ministra Miriam Belchior apresentou o Plano Plurianual para o período 2012-2015. Na sua apresentação, em slides, está previsto um total de investimentos em infraestrutura de R$ 1,2 trilhões no período. Evidentemente todos sabemos do peso estratégico da infraestrutura no crescimento nacional e dispomos de algumas toneladas de papel escrito com fartas demonstrações sobre como a infraestrutura ineficiente interfere nele. Portanto gastar alguns trilhões ao longo de quatro anos é sim relevante.

Nosso problema é que quando falamos de infraestrutura normalmente falamos de transporte de cargas e pessoas e sua logística, saneamento, energia elétrica e telecomunicações. A apresentação é da ministra e ela apresenta como quer os dados, mas os problema é que, por exemplo, a construção de moradias equivale a mais de um terço do total estipulado para “infraestrutura”.

Indo ao que interessa “transporte” tem um dispêndio previsto de 9,8% do total, o que dá cerca de um pouco mais de R$170 bi. Seria algo como 1,55% do valor somado do PIB previsto para o período 2012-2015. Segundo dados da apresentação nos pouco mais de R$ 170 bi estão todos os investimento governamentais, de empresas estatais e da “parceria” privada. Restaria de fora os investimentos privados propriamente ditos. Embora o Plano Nacional de Lógística e Transporte(PNLT), ora em vigor, comemore “o bom ambiente para a atração de investimentos privados tudo o que se sabe é que, independentemente de haver uma crise no mundo, o ambiente está muito longe de ser “atrativo”. Há problemas de entrave bem delimitados, e permanentemente cobrados pela CNI e outras corpoorações, nas Parcerias Público Privadas(PPPs) e os Fundos de Investimento e Parceria na Infraestrutura(FIP-IE) não parecem estar exatamente decolando. A excessão de sempre fica por conta dos Fundos de Pensão das Estatais, indiretamente controlados pelo governo, via sindicatos. Historicamente os investimentos privados, apesar de toda a movimentação governamental, vêem caindo em termos de PIB e atualmente andam na faixa de 1%.
Ai está o nosso problema: Se o governo irá investir 1,55% e se o setor privado mantiver seu nível atual de investimento de 1%, tudo o que teremos será um investimento total de 2,55%, que é a metade do que deveria ser investido se quisermos nos comparar à Índia, por exemplo. A China investe cerca de 7,5% de seu PIB. Ou seja três vezes mais.

Resguardando, claro, as devidas proporções a China está investimento apenas numa rede de transporte de massa subterrâneo, a ser instalada em 28 cidades até 2020, U$ 160 bi, algo como R$ 280 bi. Segundo o Zero Hedge, indignado com a postura republicana de ter matado no Senado americano a proposta de investimento de Obama em infraestrutura, no valor de U$ 60 bi, o “pacote” chinês de investimentos em infraestrutura chega a U$ 260 bi ou R$ 455 bi.

Essa questão do investimento em transporte de massa é outro problema brasileiro. Nossa infraestrutura de transportes e logística é tão precária na área de cargas que os recursos são praticamente todos direcionados para ela. Claro que a infraestrutura de transporte de massas pode rebater e coincidir em muitos casos, mas os nossos problema mais sérios não estão na longa distância, problema do transporte de cargas, mas nas distâncias bem menores como a circulação intrermunicipal, tema extremamente crítico e “terra de ninguém” e na circulação urbana. 
O pensamento governamental parece ser mesmo o do ex-ministro Anísio Silva, que se referindo à mobilidade durante a Copa disse que “não seria um problema” ou o pensamento de Miriam Belchior que colocou na mesa a solução do feriado. Enfim, um governo arquipreocupado em construir estádios, mas nada preocupado em como as pessoas sairão e chegarão lá. Essa “enorme” preocupação transformou-se em ridículos R$ 18 bi concedidos para a mobilidade urbana.

Claro que os previstos pouco mais de R$ 170 bi eram previstos num plano de vôo com um PIB de 5% em 2012 e 5,5% nos anos seguintes, conforme os delírios de Mantega. 
Como essas contas são feitas com base na arrecadação prevista e supondo que na realidade o crescimento do período esteja mais para alguma coisa perto de 3 a 3,5%...

É isto. Precisa mais?

Demetrio Carneiro