O Plano de Dilma e Mantega não poderia ser muito mais do que foi: Nacionalismo de oportunidades. O pensamento econômico governista não é estratégico, não tem propostas reais de longo prazo, ainda que alguns setores especializados dentro do governo as tenham. O pensamento governista é tático. Orienta-se para o dia a dia e para o uso do Estado no sentido de reforçar o projeto de poder.
Evidente que qualquer plano econômico tem reclamações, pois jamais plano algum alcança o conjunto dos interesses existentes e é possível afirmar que aqueles que reclamam estão reclamando por não terem sido beneficiados. Pode até ser verdade em muitos casos. Mas também é verdade que este plano tem endereço e se destina a reforçar os condôminos do consórcio de poder.
Neopatrimonialismo no Brasil ainda é um conceito em construção, mas pode ser simplificado pelo uso da noção da privatização do público. A transformação dos bens e serviços púbicos, o uso do Estado, em favor de grupos que atuam na busca de benefícios privados. No caso do neopatrimonialismo o que vale é a rede de relações que tudo permeia ligando agentes públicos, agentes políticos e agentes privados.
Talvez, e para este plano, o melhor exemplo sejam os Conselhos, setoriais, de Competividade. Sob um nome tão sugestivo não passam de conselhos de amigos da rainha, unidos em nome de uma suposta moderna proposta de governança, cuja finalidade evidente é usar o termo da moda, competição, para garantir interesses corporativos. A lembrança do consultor Pimentel, 100% a melhor imagem do comprometimento do agente público com o neopatrimonialismo, de que aqueles que podem reclamar destes conselhos são saudosistas do passado da ditadura, apenas serve para mostra uma deliberada intenção de misturar as cartas e confundir o jogo midiático transvestindo uma proposta arcaica em moderna ou até revolucionária.
Outro bom exemplo é a defesa da indústria automobilística “nacional” de si própria. Desde sempre as cadeias produtivas da indústria de automóveis, cujo segmento mais importante está nos países do Centro, são protegidas do Estado-Nação brasileiro. As elites dirigentes do Estado-Nação inventam o discurso de defesa nacional por interesses de sobrevivência política e a indústria ligada as cadeias produtivas é a beneficiária desses discursos. Contudo e desta vez chegamos ao paroxismo do Estado-Nação que pretende defender a cadeia produtiva dela mesma, já que os maiores importadores de carro são justamente as cadeias aqui instaladas...
Para finalizar vale registrar a ridícula afirmação de Dilma ao ser questionada por um dirigente da central sindical UGT quanto ao spread bancário: “Precisamos estudar mais o assunto...”. Difícil imaginar o que a presidente podia estar pensando quando deu essa resposta, mas certamente não tinha a haver com assuntos econômicos. Fazer de conta que não sabe que o altíssimo spread bancário tem tudo a haver com a fortíssima rede bancária de formato oligopolista e que a única solução é democratizar o crédito aumentando a concorrência bancária é uma reação primária e só mostra o nível de compromisso dentro da rede neopatrimonialista.
Claro que a desculpa do alto spread privado também é uma porta aberta para reforçar o crédito público e aumentar a estatal-dependência das empresas, reforçando a rede neopatrimonialista. Não há melhor formato para garantir contribuições de campanha...
Demetrio Carneiro