sexta-feira, 29 de julho de 2011

INFORMALIDADE E VARIEDADE DE CAPITALISMO NO BRASIL

por Demetrio Carneiro
    
    Não é preciso buscar muitas evidências empíricas para estabelecer que a agregação de amplos setores da economia informal ao ciclo de consumo, pela via da compensação do risco de crédito via altas taxas de juros, tem forte correlação com os níveis atuais de crescimento econômico.

    Também não é preciso buscar muitas evidências empíricas de que as políticas públicas distributivistas tiveram importante papel na entrada dos setores formais no mercado de consumo.

     A hipótese é que políticas sociais amplas mais o ingresso no mercado de consumo criaram uma “zona de conforto” bastante razoável e que isso reduz as pressões distributivas criando um perfil de eleitor menos focado neste aspecto da política. De certa forma a informalidade de incômodo se torna algo confortável. Se considerarmos ainda que os setores informais são desorganizados muito provavelmente podemos imaginar que terão uma forte tendência à votar “com o bolso” e estarão dispostos a apoiar qualquer governo que ao menos mantenha seus níveis de renda e consumo, sem ambições de discutir outras escolhas, já que a mesma zona de conforto não estimula um debate sobre a qualidade dos bens e serviços públicos.

      A necessidade de manter a zona de conforto inalterada é parte da explicação da manutenção de uma política econômica de olho em um piso de crescimento e não num teto de inflação. A zona de conforto se coloca como uma explicação bem razoável da escolha pela inflação.

      A hipótese decorrente é que a zona de conforto faz parte intrínseca de nossa variedade específica de capitalismo e joga um importante papel não apenas na reprodução do modo, na economia, mas também na política, pois viabiliza que a desigualdade não sirva de elemento de pressão para uma mudança mais forte na coalizão de poder.