quinta-feira, 24 de julho de 2014

ESTUDO MOSTRA SER POSSÍVEL RECUPERAR 70 MILHÕES DE HECTARES COM PECUÁRIA INTENSIVA




Boas ideias existem...o Brasil tem uma vocação rural que não pode ser ignorada. Parte do debate ambiental passa por uma forte oposição entre setores conservacionistas e a atividade agropecuária. Grupos mais radicais do conservacionismo praticamente defendem o fim do agronegócio com investimentos públicos apenas na agricultura familiar como se esta fosse a solução para todos os problemas e ignorando o peso econômico da atividade agropecuária, especialmente na região Centro-Oeste.

Realmente não é possível desenvolver a atividade agropecuária sem desmatar, mas as soluções vão aparecendo...

Por meio da aplicação de práticas intensivas um estudo indica que seria possível recuperar para a agricultura intensiva um espaço de mais de 35 milhões de hectares e talvez outros 35 milhões adicionais para reflorestamento. 

Isso indica que um programa governamental bem direcionado pode colocar em uso cerca de 70 milhões de hectares destinados ao uso extensivo da agropecuária.


Estudo mostra que Brasil pode ter a maior expansão agropecuária do mundo com desmatamento zero

Um estudo coordenado pelo Instituto Internacional para Sustentabilidade (IIS), em parceria com a Embrapa e o INPE e publicado no períodico ‘Global Environmental Change’ mostrou que uma melhor utilização de áreas já dedicadas à pecuária pode conciliar uma expansão expressiva da agropecuária nacional com desmatamento zero.

“Nossas análises mostram que o Brasil já possui áreas agrícolas e pecuárias suficientes para absorver a maior expansão de produção agrícola do mundo nas próximas três décadas, sem precisar desmatar um hectare adicional de áreas naturais”, afirmou o coordenador do estudo, Bernardo Strassburg, professor da PUC-Rio e diretor executivo do Instituto Internacional para a Sustentabilidade.

“A chave é um aumento de produtividade das áreas de pastagem. Hoje utilizamos apenas um terço do potencial das nossas pastagem, e se passarmos a utilizar metade deste potencial em 30 anos conseguiríamos aumentar em 50% a produção de carne e liberar 32 milhões de hectares para outros cultivos como a soja e florestas plantadas. Se conseguirmos atingir 70% do potencial, ainda liberarísmos outros 36 milhões de hectares para recompor áreas nativas, tão importantes para garantir a provisão de água e outros serviços ambientais que sustentam o próprio agronegócio, a produção de energia e a economia brasileira”, acrescenta Strassburg.

“O aumento da produtividade da pecuária no Brasil irá exigir esforços significativos , incluindo um planejamento territorial integrado, oferta de linhas de crédito compatíveis com a pecuária, de preferência com assistência técnica integrada. Estes podem ser caracterizados como um grande desafio. No estudo, entretanto, mostramos que esse aumento é possível e que poderia contribuir para resolver uma variedade de problemas socioambientais, aumentar a renda do produtor, diminuir a pobreza rural e fixar o homem no campo, resultando em um setor agrícola mais sustentável no Brasil', afirma Agnieszka Latawiec, diretora de pesquisas do Instituto Internacional para Sustentabilidade.

Por outro lado tal iniciativa também apresenta riscos: “É imprescindível que uma política de aumento de produtividade – e portanto do lucro - na pecuária seja acompanhada de esforços complementares para evitar um impulso por mais desmatamento”, completa Bernardo Strassburg.

Segundo Judson Valentim, pesquisador da Embrapa Acre, tecnologias desenvolvidas pela Embrapa na forma de sistemas intensivos de produção bovina a pasto, associados a sistemas de integração lavoura-pecuária e lavoura-pecuária-floresta estão promovendo uma revolução na agropecuária brasileira. As cultivares de gramíneas e leguminosas forrageiras desenvolvidas pela Embrapa já são adotadas em mais de 42 milhões de hectares de pastagens cultivadas em todo o Brasil. “Por serem bem adaptadas as diferentes condições de clima e solo, além de mais produtivas e de melhor qualidade, estas pastagens proporcionaram renda adicional de R$ 8,9 bilhões aos produtores em 2013. Esses sistemas de produção sustentáveis conciliam aumento da produção e a melhoria da renda e do bem-estar dos produtores com a conservação dos recursos naturais.”

O Plano ABC (Plano Setorial de Mitigação e Adaptação às Mudanças Climáticas para a Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura) desenvolvido pelo governo federal é um exemplo de política pública que estimula a adoção dessas práticas. Produtores rurais podem requerer crédito para adoção de técnicas de baixa emissão de carbono, como recuperação de pastagens degradadas, Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF) e Sistemas Agroflorestais (SAFs), sistema Plantio Direto (SPD),Fixação Biológica do Nitrogênio (FBN) e florestas plantadas; tratamento de dejetos animais. A meta é incorporar 8 milhões de hectares até 2020.

Ao evitar o desmatamento e diminuir a emissão de metano por quilo de carne produzida, tal iniciativa também seria uma poderosa ferramenta de conservação da biodiversidade e de mitigação das mudanças climáticas, evitando a emissão de até 14,3 GtCO2.

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